Publicidad

Revisão comparativa dos 68Ga-DOTA-peptídeos

Introdução

Nos últimos anos, a Medicina Nuclear tem se voltado aos estudos de prevenção, diagnóstico e terapia personalizada focada em nível molecular e genético, alterando o manejo de cada doença de acordo com o quadro do paciente. Isto inclui o estudo de alvos específicos, ou seja, radiofármacos baseados na ligação com o receptor do tecido danificado. O acúmulo do radiofármaco quando se liga ao receptor leva à localização da doença(1).

As técnicas não invasivas de diagnóstico por imagem, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, são utilizadas para obter imagens das alterações morfológicas e anatômicas normalmente associadas a alguma patologia. No entanto, essas técnicas são pouco específicas e sensíveis para o diagnóstico precoce de vários tipos de câncer ou para a detecção de pequenos neoplasmas (menores que 1 cm). Para definição de um tratamento efetivo, é essencial um método mais sensível e específico para o diagnóstico de neoplasias em fase inicial(2).

Técnicas de diagnóstico baseadas na utilização de radioisótopos, como Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET) e Tomografia por Emissão de Fóton Único (SPECT), têm a vantagem de identificar modificações funcionais associadas a mecanismos celulares anormais pelos quais o câncer se desenvolve. Os radiofármacos têm grande importância no diagnóstico do câncer, pois são relativamente específicos e podem ser empregados tanto no diagnóstico quanto no tratamento de neoplasias(3,4).

O interesse pela marcação com gálio-68 (68Ga) deu-se principalmente devido ao desenvolvimento de um grupo de moléculas marcadas que atraíram um considerável interesse clínico. Essas moléculas são os análogos de somatostatina conjugados com o ácido DOTA (ácido tetracético 1,4,7,10-tetrazaciclododecano-N,N′,N″,N′″), as quais foram desenvolvidas inicialmente para terapia radionuclídica, tendo como alvo tumores com superexpressão de receptores de somatostatina. Receptores de somatostatina são expressos fisiologicamente em alguns órgãos, como fígado, baço e rins. Tumores de origem neuroendócrina, no entanto, expressam esses receptores em uma concentração cerca de 100 vezes maior. Ao mesmo tempo, os geradores de 68Ge/68Ga estão se tornando cada vez mais disponíveis comercialmente, possibilitando uma rápida difusão do uso desses peptídeos radiomarcados(5). Estudos têm demonstrado que o 68Ga ligado a DOTA-peptídeos tem desempenho nitidamente melhor quando comparado a 111In-peptídeos e moléculas marcadas com 18F, principalmente em células que expressam receptores de somatostatina do tipo 2 (SSTR-2)(5,6,7).

O 68Ga ligado à molécula DOTA forma complexos estáveis com 3 tipos diferentes de peptídeos (Tyr3-octreotide, Tyr3-octreotate e 1NaI3-octreotide) que têm como alvo as células de tumores neuroendócrinos, demonstrando ser esta uma abordagem adequada, pois fornece imagens de altas resolução e qualidade, proporcionando diagnósticos mais precisos(3).

Os peptídeos ligados ao DOTA também podem ser marcados com elementos emissores de partículas β- (ítrio-90 - 90Y, lutécio-177 - 177Lu ou rênio-188 - 188Re) e utilizados para terapia antineoplásica. Esse tratamento é denominado PRRT (Peptide Receptor Radionuclide Therapy), que representa grande avanço no tratamento contra o câncer, pois possibilita que a terapia seja personalizada e altamente específica para cada paciente. As partículas β- interagem intensamente com os tecidos cancerosos, causando a destruição das células tumorais(8).

O objetivo deste trabalho é relatar o crescente desenvolvimento da Medicina Nuclear como nova tecnologia para diagnóstico de tumores neuroendócrinos, destacando sua importância e relevância. Os estudos disponíveis na literatura dos três principais tipos de 68Ga-DOTA-peptídeos (68Ga-DOTATATE, 68Ga-DOTATOC, 68Ga-DOTANOC) foram avaliados e comparados com relação a sua eficácia e desempenho em estudos clínicos.