INTRODUÇÃO: A hiperostose se caracteriza como um processo ósseo benigno, no qual ocorre um crescimento ósseo excessivo, ocorrendo em várias desordens músculo-esqueléticas. Na calota craniana, pode ser encontrada como um espessamento da tábua interna de seus ossos, principalmente do osso frontal, mas podendo também ocorrer no osso parietal, ossos da base e órbita. Trata-se de uma entidade geralmente sem repercussão clínica significativa, sendo muitas vezes um achado incidental. Entretanto, caso ocorra um crescimento ósseo exuberante, pode chegar a comprimir o tecido cerebral. Apresenta uma ampla gama de diagnósticos diferenciais, com um padrão cintilográfico de captação de MDP-99mTc que pode algumas vezes assemelhar-se a outros processos ósseos e extra-ósseos.

RELATO DO CASO: Paciente do sexo feminino, 57 anos, com diagnóstico de câncer de mama esquerda há 4 anos. Realizou nesta época mastectomia total à esquerda e esvaziamento axilar, sendo submetida à radioterapia (última sessão em abril de 2008) e quimioterapia (última sessão em outubro de 2008). A cintilografia óssea em janeiro de 2008 havia evidenciado moderada hipercaptação difusa de MDP-99mTc na região parietal alta da calota craniana, tendo sido levantada a hipótese de hiperostose craniana. Não foi realizado qualquer exame de imagem adicional da calota craniana neste período. Durante o acompanhamento da paciente, foi realizada nova cintilografia óssea em janeiro de 2010, a qual demonstrou que a captação parietal anteriormente vista permaneceu inalterada. Estudo cintilográfico subsequente em agosto de 2011, complementado com SPECT/CT, demonstrou então que a captação parietal, anteriormente considerada como hiperostose, representava na verdade um achado de calcificação meníngea.

DISCUSSÃO: A cintilografia óssea com MDP-99mTc é uma técnica sensível na detecção de alterações do metabolismo ósseo. O MDP-99mTc liga-se aos cristais de hidroxiapatita e à fosfatase ácida, uma enzima em altas concentrações no tecido ósseo. Entretanto, também pode se ligar a outros locais onde esteja ocorrendo o depósito de cálcio. Situações como o aumento da secreção de paratormônio, destruição óssea, desordens do metabolismo da vitamina D e falência renal podem levar à hipercalcemia, com subsequente aumento da concentração de cálcio em alguns tecidos. Devido à possibilidade de captação extra-óssea, torna-se fundamental a definição do verdadeiro sítio de captação de 99mTc-MDP na cintilografia. No caso relatado acima, o SPECT/CT apresentou valor adicional ao contribuir na caracterização anatômica da lesão encontrada pela cintilografia com MDP-99mTc, que correspondia à calcificação meníngea e não à hiperostose. A calcificação meníngea pode ser encontrada em linfoma primário das meninges, sendo um achado de relevância clínica. O quadro evolutivo desta paciente acabou descartando este diagnóstico, sendo a calcificação meníngea neste caso um achado benigno. A diferenciação entre processos ósseos benignos e malignos pelo SPECT/CT já vem sendo foco de discussão há algum tempo, entretanto há que se enfatizar também o papel deste método na diferenciação entre lesões próprias do osso e outras decorrentes de processos extra-ósseos. A localização precisa destes achados contribui sobremaneira na elucidação de casos duvidosos pelo estudo cintilográfico planar, auxiliando na correta investigação diagnóstica.