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Desenvolvimento de dosimetria por voxel aplicável à terapia com radionuclídeos

Introdução

A terapia com radionuclídeos é procedimento médico reconhecido há mais de 70 anos, com destaque para a iodoterapia com iodo-131 (131I) do hipertireoidismo e do carcinoma de tireoide(1). Tratamentos com outros radionuclídeos e radiofármacos são indicados em situações específicas, com crescente respaldo em ensaios clínicos, o que deve levar a uma ampliação de seu uso(2,3,4). A atividade de radionuclídeos empregada com finalidade terapêutica é quase sempre determinada de forma empírica. Os estudos de dosimetria como parte do planejamento em sua maioria são voltados à restrição de dose que leve a radiotoxicidade, com poucos estudos dedicados a avaliação de dose tumoral(5). Apesar de alguns Serviços de Medicina Nuclear (SMNs) adotarem medidas de dosimetria para controle de radiotoxicidade, não é do conhecimento dos autores que algum SMN no Brasil realize dosimetria tumoral no planejamento da terapia com radionuclídeos.

A dosimetria para procedimentos terapêuticos deve basear-se na mensuração de doses de radiação que levam a efeitos determinísticos, tais como a morte celular, determinadas individualmente para cada paciente, de forma a permitir um ajuste da atividade que produza o efeito terapêutico no tumor e minimize a toxicidade em tecidos sadios. O programa computacional de dosimetria interna mais aceito é o OLINDA/EXM®, validado em 2004 nos EUA pelo Food and Drug Administration (FDA) para calcular doses absorvidas de radiação recebidas por pacientes após a incorporação de radiofármacos(6). A dosimetria pelo OLINDA/EXM é utilizada principalmente para estimar a dose de radiação recebida pelos diferentes órgãos internos e corpo inteiro do paciente em estudos diagnósticos, podendo esta dose ser associada a informações epidemiológicas para estimativa de risco de efeitos estocásticos, tais como a carcinogênese. A principal limitação desta abordagem para o planejamento da terapia com radionuclídeos decorre da utilização de modelos geométricos em que se considera que as atividades de radionuclídeos medidas no paciente assumem uma distribuição padrão e homogênea dentro de cada órgão.

A utilização de parâmetros de biodistribuição, cinética, morfologia e geometria dos órgãos e tumores do próprio paciente é importante para o cálculo dosimétrico em terapia. Estes dados podem ser obtidos em imagens tridimensionais como o SPECT/CT ou PET/CT, adquiridas de forma sequencial ao longo do período de acúmulo e eliminação do radiofármaco. A quantificação de imagens combinando tanto a anatomia quanto o grau de funcionalidade de cada órgão permite trazer uma maior precisão na definição anatômica e também na quantificação da atividade residente no órgão estudado, o que pode se traduzir em uma dosimetria mais apurada e em uma melhor correlação entre a dose absorvida de radiação e a resposta biológica do volume irradiado(7).

Apesar de existirem métodos de dosimetria volumétrica em desenvolvimento no mundo(7,8,9) não existe ainda um método de dosimetria volumétrica disponível clinicamente. Desta forma, o objetivo do presente trabalho foi o desenvolvimento de um método de dosimetria interna volumétrica aplicável na prática clínica para estudos diagnósticos e planejamento da terapia com radionuclídeos.